terça-feira, 17 de março de 2015

INCLUSÃO PROMOVE A JUSTIÇA

Inclusão promove a justiça

Para a educadora Maria Teresa Égler Mantoan, na escola inclusiva professores e alunos aprendem uma lição que a vida dificilmente ensina: respeitar as diferenças. Esse é o primeiro passo para construir uma sociedade mais justa


Maria Teresa Eglér Mantoan. Foto: Caca Bratke
MARIA TERESA EGLÉR MANTOAN  
"Estar junto é se aglomerar com pessoas que não conhecemos. Inclusão é estar com, é interagir com o outro".  Foto: Kaka Bratke

Uma das maiores defensoras da educação inclusiva no Brasil, Maria Teresa Mantoan é crítica convicta das chamadas escolas especiais. Ironicamente, ela iniciou sua carreira como professora de educação especial e, como muitos, não achava possível educar alunos com deficiência em uma turma regular. A educadora mudou de idéia em 1989, durante uma viagem a Portugal. Lá, viu pela primeira vez uma experiência em inclusão bem-sucedida. "Passei o dia com um grupo de crianças que tinha um enorme carinho por um colega sem braços nem pernas", conta. No fim da aula, a professora da turma perguntou se Maria Teresa preferia que os alunos cantassem ou dançassem para agradecer a visita. Ela escolheu a segunda opção. "Na hora percebi a mancada. Como aquele menino dançaria?" Para sua surpresa, um dos garotos pegou o colega no colo e os outros ajudaram a amarrá-lo ao seu corpo. "E ele, então, dançou para mim." Na volta ao Brasil, Maria Teresa que desde 1988 é professora da Faculdade de Educação da Universidade Estadual de Campinas deixou de se concentrar nas deficiências para ser uma estudiosa das diferenças. Com seus alunos, fundou o Laboratório de Estudos e Pesquisas em Ensino e Diversidade. Para ela, uma sociedade justa e que dê oportunidade para todos, sem qualquer tipo de discriminação, começa na escola.
O que é inclusão? 
É a nossa capacidade de entender e reconhecer o outro e, assim, ter o privilégio de conviver e compartilhar com pessoas diferentes de nós. A educação inclusiva acolhe todas as pessoas, sem exceção. É para o estudante com deficiência física, para os que têm comprometimento mental, para os superdotados, para todas as minorias e para a criança que é discriminada por qualquer outro motivo. Costumo dizer que estar junto é se aglomerar no cinema, no ônibus e até na sala de aula com pessoas que não conhecemos. Já inclusão é estar com, é interagir com o outro.

Que benefícios a inclusão traz a alunos e professores? 
A escola tem que ser o reflexo da vida do lado de fora. O grande ganho, para todos, é viver a experiência da diferença. Se os estudantes não passam por isso na infância, mais tarde terão muita dificuldade de vencer os preconceitos. A inclusão possibilita aos que são discriminados pela deficiência, pela classe social ou pela cor que, por direito, ocupem o seu espaço na sociedade. Se isso não ocorrer, essas pessoas serão sempre dependentes e terão uma vida cidadã pela metade. Você não pode ter um lugar no mundo sem considerar o do outro, valorizando o que ele é e o que ele pode ser. Além disso, para nós, professores, o maior ganho está em garantir a todos o direito à educação.

O que faz uma escola ser inclusiva? Em primeiro lugar, um bom projeto pedagógico, que começa pela reflexão. Diferentemente do que muitos possam pensar, inclusão é mais do que ter rampas e banheiros adaptados. A equipe da escola inclusiva deve discutir o motivo de tanta repetência e indisciplina, de os professores não darem conta do recado e de os pais não participarem. Um bom projeto valoriza a cultura, a história e as experiências anteriores da turma. As práticas pedagógicas também precisam ser revistas. Como as atividades são selecionadas e planejadas para que todos aprendam? Atualmente, muitas escolas diversificam o programa, mas esperam que no fim das contas todos tenham os mesmos resultados. Os alunos precisam de liberdade para aprender do seu modo, de acordo com as suas condições. E isso vale para os estudantes com deficiência ou não.

Como está a inclusão no Brasil hoje? Estamos caminhando devagar. O maior problema é que as redes de ensino e as escolas não cumprem a lei. A nossa Constituição garante desde 1988 o acesso de todos ao Ensino Fundamental, sendo que alunos com necessidades especiais devem receber atendimento especializado preferencialmente na escola , que não substitui o ensino regular. Há outra questão, um movimento de resistência que tenta impedir a inclusão de caminhar: a força corporativa de instituições especializadas, principalmente em deficiência mental. Muita gente continua acreditando que o melhor é excluir, manter as crianças em escolas especiais, que dão ensino adaptado. Mas já avançamos. Hoje todo mundo sabe que elas têm o direito de ir para a escola regular. Estamos num processo de conscientização.

A escola precisa se adaptar para a inclusão? Além de fazer adaptações físicas, a escola precisa oferecer atendimento educacional especializado paralelamente às aulas regulares, de preferência no mesmo local. Assim, uma criança cega, por exemplo, assiste às aulas com os colegas que enxergam e, no contraturno, treina mobilidade, locomoção, uso da linguagem braile e de instrumentos como o soroban, para fazer contas. Tudo isso ajuda na sua integração dentro e fora da escola.

Como garantir atendimento especializado se a escola não oferece condições? 
A escola pública que não recebe apoio pedagógico ou verba tem como opção fazer parcerias com entidades de educação especial, disponíveis na maioria das redes. Enquanto isso, a direção tem que continuar exigindo dos dirigentes o apoio previsto em lei. Na particular, o serviço especializado também pode vir por meio de parcerias e deve ser oferecido sem ônus para os pais.

Estudantes com deficiência mental severa podem estudar em uma classe regular? Sem dúvida. A inclusão não admite qualquer tipo de discriminação, e os mais excluídos sempre são os que têm deficiências graves. No Canadá, vi um garoto que ia de maca para a escola e, apesar do raciocínio comprometido, era respeitado pelos colegas, integrado à turma e participativo. Há casos, no entanto, em que a criança não consegue interagir porque está em surto e precisa ser tratada. Para que o professor saiba o momento adequado de encaminhá-la a um tratamento, é importante manter vínculos com os atendimentos clínico e especializado.

A avaliação de alunos com deficiência mental deve ser diferenciada? Não. Uma boa avaliação é aquela planejada para todos, em que o aluno aprende a analisar a sua produção de forma crítica e autônoma. Ele deve dizer o que aprendeu, o que acha interessante estudar e como o conhecimento adquirido modifica a sua vida. Avaliar estudantes emancipados é, por exemplo, pedir para que eles próprios inventem uma prova. Assim, mostram o quanto assimilaram um conteúdo. Aplicar testes com consulta também é muito mais produtivo do que cobrar decoreba. A função da avaliação não é medir se a criança chegou a um determinado ponto, mas se ela cresceu. Esse mérito vem do esforço pessoal para vencer as suas limitações, e não da comparação com os demais.

Um professor sem capacitação pode ensinar alunos com deficiência? Sim. O papel do professor é ser regente de classe, e não especialista em deficiência. Essa responsabilidade é da equipe de atendimento especializado. Não pode haver confusão. Uma criança surda, por exemplo, aprende com o especialista libras (língua brasileira de sinais) e leitura labial. Para ser alfabetizada em língua portuguesa para surdos, conhecida como L2, a criança é atendida por um professor de língua portuguesa capacitado para isso. A função do regente é trabalhar os conteúdos, mas as parcerias entre os profissionais são muito produtivas. Se na turma há uma criança surda e o professor regente vai dar uma aula sobre o Egito, o especialista mostra à criança com antecedência fotos, gravuras e vídeos sobre o assunto. O professor de L2 dá o significado de novos vocábulos, como pirâmide e faraó. Na hora da aula, o material de apoio visual, textos e leitura labial facilitam a compreensão do conteúdo.

Como ensinar cegos e surdos sem dominar o braile e a língua de sinais? 
É até positivo que o professor de uma criança surda não saiba libras, porque ela tem que entender a língua portuguesa escrita. Ter noções de libras facilita a comunicação, mas não é essencial para a aula. No caso de ter um cego na turma, o professor não precisa dominar o braile, porque quem escreve é o aluno. Ele pode até aprender, se achar que precisa para corrigir textos, mas há a opção de pedir ajuda ao especialista. Só não acho necessário ensinar libras e braile na formação inicial do docente.

O professor pode se recusar a lecionar para turmas inclusivas? 
Não, mesmo que a escola não ofereça estrutura. As redes de ensino não estão dando às escolas e aos professores o que é necessário para um bom trabalho. Muitos evitam reclamar por medo de perder o emprego ou de sofrer perseguição. Mas eles têm que recorrer à ajuda que está disponível, o sindicato, por exemplo, onde legalmente expõem como estão sendo prejudicados profissionalmente. Os pais e os líderes comunitários também podem promover um diálogo com as redes, fazendo pressão para o cumprimento da lei.

Há fiscalização para garantir que as escolas sejam inclusivas? O Ministério Público fiscaliza, geralmente com base em denúncias, para garantir o cumprimento da lei. O Ministério da Educação, por meio da Secretaria de Educação Especial, atualmente não tem como preocupação punir, mas levar as escolas a entender o seu papel e a lei e a agir para colocar tudo isso em prática.
Quer saber mais?
Bibliografia
Direitos das pessoas com deficiência: garantia de igualdade na diversidade, Eugênia Augusta Fávero, 342 págs., Ed. WVA, tel. (21) 2493-7610, 40 reais

Inclusão Escolar: O que é? Por quê? Como fazer?, Maria Teresa Eglér Mantoan, 96 págs., Ed. Moderna, tel. 0800-172002, 11 reais

Fonte: http://revistaescola.abril.com.br/formacao/maria-teresa-egler-mantoan-424431.shtml



domingo, 15 de março de 2015

EDUCAÇÃO INCLUSIVA, DIVERSIDADE E CIDADANIA.

Vinícius Gaspar Garcia


É professor e pesquisador nas Faculdades de Campinas - Facamp
EDUCAÇÃO INCLUSIVA, DIVERSIDADE E CIDADANIA.

O processo de inclusão escolar de crianças e jovens com deficiência tem avançado no País. Ainda assim, há muito a fazer e é preciso persistir nesse caminho, considerado não só a melhor resposta para o aluno com deficiência, como para todos os demais

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Historicamente, um dos maiores desafios para plena inclusão social das pessoas com deficiência foi o acesso ao sistema regular de ensino. Durante muito tempo, prevaleceu o entendimento de que as crianças e jovens com deficiência deveriam, na melhor das hipóteses, frequentar apenas entidades especializadas e exclusivas para este segmento populacional.
Atualmente, não há dúvidas de que a convivência entre aqueles com e sem deficiência é um processo benéfico e positivo para todos os envolvidos.
Embora o tema ainda suscite polêmica, no Brasil existe farta legislação que: a) garante o acesso em classes comuns de ensino regular para todas as crianças e adolescentes com deficiência; b) define como crime negar a matrícula de alunos com deficiência em escolas públicas ou particulares (artigo 24 da Convenção sobre o Direito das Pessoas com Deficiência; artigo 8º. Da Lei 7.853/89 e artigo 208 da Constituição Federal).
A garantia legal, porém, não significa que a inclusão escolar ocorra de forma integral ou sem dificuldades.
Existem ainda resistências que, por vezes, partem dos próprios pais de crianças com deficiência no sentido de apontar debilidades no sistema regular de ensino e a “falta de preparo e estrutura” para permitir a inclusão.
Tal discurso, em algumas situações, é reforçado por entidades especializadas que ainda se apresentam como única possibilidade para formação escolar das crianças com deficiência. Mesmo reconhecendo esta realidade, não se pode negar que:
De acordo com inúmeras pesquisas, tratados internacionais e experiências práticas, a educação inclusiva é a melhor resposta para o aluno com deficiência e para todos os demais alunos. É uma educação que respeita as características de cada estudante, que oferece alternativas pedagógicas que atendem às necessidades educacionais de cada aluno: uma escola que oferece tudo isso num ambiente inclusivo e acolhedor, onde todos podem conviver e aprender com as diferenças” (Movimento Down, Escola para Todos, 2013).
Assim sendo, é imperativo que se busque garantir a inclusão escolar superando ou corrigindo as dificuldades práticas que se apresentem.
Deve-se observar que a escolha deste caminho não significa negar o papel das entidades especializadas. Ao contrário, o modelo ideal de inclusão prevê que, no contraturno escolar, seja oferecido o atendimento educacional especializado (AEE) nas chamadas salas de recurso, o que pode ocorrer na própria escola por meio de professores especializados ou em entidades conveniadas como os APAEs (Decreto 7.612/2011).
Em termos práticos, o estudante vai à escola pela manhã e recebe o AEE à tarde, ou vice-versa, garantindo assim uma formação escolar plena, integral e inclusiva.
Alguns dados recentes mostram que, mesmo com as dificuldades práticas, o processo de inclusão escolar de crianças e jovens com deficiência tem avançado no País.
A tabela abaixo apresenta o número de matrículas de pessoas com deficiência apurado no Censo Escolar de 2012 nas “escolas especiais”, nas “classes comuns” e no total.
tabela educacao inclusiva
Observam-se duas tendências simultâneas e positivas: a) o aumento no total de matrículas de alunos com deficiência, de 654 mil em 2007 para 820 mil em 2012; b) o crescimento das matrículas nas “classes comuns”, de 306 mil para 620 mil no mesmo período, com redução correspondente das matrículas nas “escolas especiais ou exclusivas”.
Em síntese, em 2007, a maioria das matrículas de alunos com deficiência, 53,2%, ocorria somente em entidades especializadas; tal quadro inverte-se fortemente em 2012, reduzindo este percentual para 24,3% com a inclusão de 75,6% nas “classes comuns” de ensino (parte das matrículas pode ser do mesmo aluno que se insere no AEE, conforme salientado anteriormente).
O tema do acesso à educação é um dos principais eixos do “Programa Viver sem Limite”, lançado pelo Governo Federal em 2011. Esse eixo é dividido nas seguintes linhas de ação:
  1. a) salas de recursos multifuncionais; b) escola acessível; c) transporte escolar acessível; d) programa de capacitação técnica; e) acessibilidade na educação superior; f) educação bilíngue; g) BPC (Benefício de Prestação Continuada) na escola.
O último balanço do programa apresenta alguns números relativos ao período de 2011 até 2014, tais como:
  1. a) 13 mil novos salas de recursos; b) 15 mil salas já existentes que tiveram atualização de equipamentos; c) 40 mil escolas e 59 universidades federais que receberam recursos para projetos de acessibilidade; d) 2.300 veículos adquiridos para o transporte escolar acessível; e) 18 mil matrículas de pessoas com deficiência no Pronatec; f) criação de 20 cursos de letras/LIBRAS (Linguagem Brasileira de Sinais); g) inclusão na escola de 23 mil alunos que recebem o BPC.
Esses indicadores, porém, devem ser melhor qualificados e colocados em perspectiva crítica para que se tenha uma ideia mais clara dos avanços e daquilo que ainda precisa ser feito em cada área.
Tomemos, por exemplo, a informação de que 40 mil escolas receberam recursos para acessibilidade. O número total de escolas no País é de aproximadamente 190 mil, de modo que 22% das escolas, apenas, receberam os recursos.
Este é, inclusive, o percentual de escolas que, segundo o Censo Escolar de 2013, apresentam “dependências acessíveis aos portadores de deficiência”.
Outros exemplos poderiam ser dados, como o número irrisório de matrículas de pessoas com deficiência no Pronatec, apenas 18 mil num total de quase 8 milhões, ou o fato de que ainda restam 140 mil crianças e jovens com deficiência que, em situação de precariedade social (mesmo recebendo o BPC), permanecem fora da escola.
Em síntese, sem desmerecer os avanços alcançados, é preciso persistir no caminho da inclusão escolar plena das pessoas com deficiência, pois ainda há muito a ser feito.
As eventuais dificuldades deste processo, que certamente podem ocorrer, não podem ser obstáculos definitivos, pois privar as crianças e jovens com deficiência da convivência e aprendizado nas escolas regulares é prejudicial não só a elas, mas a todos os demais.
A construção da cidadania passa pela insistência na inclusão escolar, na valorização da diversidade e no respeito à diferença.
Referências
Movimento Down, Escola para Todos, 2013. Coordenação editorial: Estefania Lima, Maria Antônia Goulart e Patricia Almeida.

Fonte: http://brasildebate.com.br/educacao-inclusiva-diversidade-e-cidadania/

quarta-feira, 11 de março de 2015

DIA INTERNACIONAL DA SÍNDROME DE DOWN.

DIA INTERNACIONAL DA SÍNDROME DE DOWN
CONVERSANDO SOBRE SAÚDE, FAMÍLIA, EDUCAÇÃO E DIREITOS.






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